A religião explodiu minha cabeça. Um ataque terrorista em minhas ideias. Fui para lugares onde eu não deveria estar. Lugares sombrios, frios e desconfortáveis. A religião me levou ao inferno. A espiritualidade me tirou de lá. Fé, amor e compaixão aprendi do lado de fora do templo. A religião tentou me deixar perfeita.
Perfeitamente moldada à convenção. Perfeitamente transtornada. Questões existenciais inexistiam. Perguntas sem respostas. É necessário acreditar e pronto. Deus não quer que você saiba os segredos Dele. Apenas sorria e diga “Deus te abençoe” meu irmão. Faça tudo conforme dito na bíblia. Um livro difícil, com serpente, maçã, inferno e paraíso. Incompreensível. Professores de escola bíblica, instrutores de acampamentos, crianças obedientes, canções sem sentido. Adolescentes hipócritas. Um tédio completo. Até hoje meu coração dispara quando ouço uma igreja gritando. O grito do desespero. Muita fala, pouca audição.
Odeio desapontar quem eu amo. Seria mais fácil me sentir bem ali. Mas essa não sou eu. Não vibro da mesma maneira. Não há espaço para curiosidade dentro do templo. Até hoje carrego em mim a cruz da ideologia. Você sai da religião, mas a religião não sai de você. Pode ter 20, 30, 40 ou 50. Ela está ali todos os dias. Nos pensamentos obsessivos, na culpa, na pele marcada pela ansiedade, no medo de falhar, de não ser aceito, de cometer um pecado, na falta de coragem, no medo de ser.
A mente continua vivendo em algum grau o trauma da prisão. É difícil lidar com a liberdade. Entre pesos e culpas. Minutos de meditação. Controle dos pensamentos. Atividades para relaxar. Séries para pensar. Sigo esquisita.
A espiritualidade me trouxe alívio. Respiro. Clareou meu caminho. Fui apresentada a um novo Deus. Um Deus de escolhas, maduro e tranquilo. Amigo e não juiz. Um universo de felicidade. Há ainda angústia, desconforto e medo. A diferença é que finalmente consigo enxergar luz.