Publicado em: 28 de junho de 20201.4 min. de leitura

A cadeira não se ajusta ao corpo.
O corpo não se ajusta a cadeira.
As costas ficam tortas, os ossos deslocados, o sangue sem circular.
O café tem gosto ruim.
A água também.
A janela, única parte de acesso ao mundo, é anti-suicídio – o que faz total sentido.
O intervalo não é proibido, mas é monitorado.
De forma sutil, velada, mas acontece a monitoração.

Jovens se encurvam.
Rugas aparecem antes dos 30.
Jovens um dia rebeldes, hoje adultos que tanto criticavam.
Preocupados com coisas.
Coisas, coisas e mais coisinhas.
Não falam mais bom dia.
Apenas correm. Atrás do rabo.

Imagem. Status. Happy Hour da desgraça.

Homens frustrados olham para bundas.
Frustrados com o que se tem em casa.
Ou melhor, com o que não se tem.
Alegram-se com uma bunda, nem tão grande, nem tão pequena.
Simples, com celulite ou não, apenas uma bunda.
Pois são assim: superficiais como uma bunda.

Adultos de meia idade sem esperança.
50 e poucos esperando a aposentadoria chegar.

É impossível curtir o momento.
Tudo vai embora com o passar das horas, sem memórias, sem sentimentos.
Vai e não faz falta.
Não há o que aprender.
Não há o que evoluir.

Almoços com banhos de sol.
E pequenos chocolates de sobremesa.
O único prazer do dia.
Protetor solar para as luzes artificiais que deslizam sobre as mesas bagunçadas.
Pilhas e mais pilhas de papéis inúteis, cheios de erros, escritos por seres humanos doentes.

Cochilos no banheiro.
Sentado em cima de uma privada mal lavada.
É o lugar que resta para descansar.

Dias chatos.
Tédio.
Um saco.
Sono. Preguiça.
Bocejos.

Um lugar para regredir.

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